CONSELHO GERAL
AGRUPAMENTO DE
ESCOLAS GIL VICENTE
INFORMAÇÃO
À COMUNIDADE ESCOLAR
A
QUALIDADE DA ESCOLA PÚBLICA E O ORÇAMENTO PARA A EDUCAÇÃO
1.
O
orçamento que tem sido efetivamente executado pelos agrupamentos de escolas e
escolas não agrupadas, resultante das dotações do Orçamento de Estado, tem
vindo a diminuir de ano para ano, tornando praticamente inexistente a margem de
manobra orçamental, para além das despesas fixas. Em
2011 e 2012 os cortes orçamentais foram enormes, passando a Educação de 5,7%
para 3,9% do PIB, um dos valores mais baixos da União Europeia. Os
cortes no financiamento da Educação traduziram-se nas crescentes dificuldades
das escolas para se organizarem pedagogicamente, no empobrecimento dos
currículos nos ensinos básico e secundário, no aumento do número de alunos por
turma e consequente degradação das condições de aprendizagem, na extinção de
projetos educativos relevantes para as comunidades, nas maiores dificuldades
sentidas pelas famílias cada vez mais pobres e sem acesso a uma ação social
escolar forte e eficaz, no disparar dos níveis de desemprego e instabilidade
dos profissionais da Educação — docentes, técnicos superiores, assistentes
administrativos e assistentes operacionais.
2.
Com
a aprovação do Orçamento de Estado para 2013 e um novo
corte superior a 700 milhões de euros, foi acentuada a
contradição entre as crescentes atribuições de competências cometidas às
escolas e os meios financeiros necessários para a sua prossecução. Ao número
atrás referido, deverá acrescentar-se o corte suplementar de 4.000 milhões de
euros nas funções sociais do Estado, com incidência particular na Educação,
considerada pelo Governo o setor mais “permissivo e vulnerável” da
Constituição, se comparado com o da Saúde. Os
efeitos sobre a Educação Pré-Escolar, os Ensinos Básico e Secundário, o Ensino
Superior, a Ciência e a Investigação são dramáticos. Em pleno
período de alargamento da escolaridade obrigatória, as instituições escolares não terão sequer dinheiro para satisfazer as
despesas básicas de funcionamento, e serão condenados ao fracasso
os esforços para inverter os ainda elevados índices de insucesso e de abandono
escolares.
3. As medidas anunciadas para o setor da
Educação, para 2013 e para 2014, que visam alcançar os cortes pretendidos, põem
seriamente em causa a escola pública democrática e de qualidade:
·
Criação
de novos mega-agrupamentos e encerramento de mais escolas;
·
Transferência
para as autarquias de todas as responsabilidades com pessoal docente e não
docente, equipamento, organização e funcionamento da Educação Pré-Escolar e dos
doze anos da escolaridade obrigatória (Ensinos Básico e Secundário), deixando
provavelmente ao MEC apenas a regulação do sistema, “a tutela pedagógica” e a
definição do currículo, a sua organização e o seu desenvolvimento;
· “Criação de um sistema de financiamento mais repartido” na Educação, em
profundo desrespeito por um dos mais importantes princípios consagrados na Constituição, o da
gratuitidade progressiva do ensino. Ou seja, o Governo
pretende estabelecer uma propina ou taxa suplementar que transfira para as
famílias uma parte maior dos custos com a educação dos seus filhos;
·
Entrega
de muitos serviços e necessidades das escolas a entidades privadas, com a
organização e financiamento das AEC (Atividades de Enriquecimento Curricular)
no 1º CEB e com o recurso ao Fundo Social Europeu (POPH) para pagar salários de
docentes;
·
Criação
de vias diferenciadas de ensino, umas destinadas às elites, e outras
(profissionalizantes e menos qualificadas) dirigidas aos alunos provenientes de
famílias de menores recursos mas, ainda assim, implicando custos que não
estarão ao alcance de todos;
· Alargamento dos contratos de autonomia, com
um valor jurídico relevante,
desresponsabilizadores do MEC em relação a apoios adequados à concretização dos
projetos educativos, e suscetíveis de
ingerências inaceitáveis na vida das escolas por parte de entidades privadas.
4. A tudo isto, deverão ser acrescentadas
as novas e apertadas normas, definidas pelo Governo (MEC e Ministério das
Finanças), que regem a gestão dos orçamentos das escolas:
·
A
aquisição de “bens de equipamento inventariáveis”, que já não era possível com
verbas do “Orçamento de Estado – Despesas de Capital”, passa a ser
completamente impossível, dado que as verbas do “Orçamento de dotações com
compensação em receita” (vulgarmente conhecido como Orçamento Privativo) deixam
de poder ser utilizadas para esse efeito;
·
Todos
os bens de consumo (com exceção do material didático específico de cada
disciplina) são adquiridos pelo MEC, através do Sistema Nacional de Compras Públicas;
·
A
responsabilidade de todos os concursos públicos e/ou ajustes diretos referentes
a energia, a comunicações, a limpeza e a aquisição do “leite escolar”, bem como
a aquisição de bens para o bar, papelaria e reprografia está a ser
progressivamente transferida para as direções dos agrupamentos e/ou escolas não
agrupadas. No entanto, estas contratações/aquisições só poderão ser feitas a
empresas registadas no Sistema Nacional de Compras Públicas e após solicitação
e obtenção de autorização.
5. No que diz respeito à situação do Agrupamento
de Escolas Gil Vicente e à aplicação/utilização do orçamento, salientamos o
seguinte:
·
De
2011/2012 para 2012/2013, o Agrupamento perdeu vinte e seis
professores, embora tenha mantido sensivelmente o mesmo número de alunos. Esta
diminuição do número de docentes, obviamente associada à diminuição dos custos
com pessoal (só no nosso Agrupamento, menos 1,5 milhões de euros) foi resultado
da política educativa seguida pelo MEC, com o aumento do número de alunos por
turma e com a revisão curricular concretizada, que apenas visou diminuir o
número de horas letivas necessárias;
·
O decréscimo, de ano para ano, do
orçamento do Agrupamento tem sido abissal, na ordem dos sessenta e oito por
cento entre 2011 e 2013. O orçamento deste ano (2013) equivaleu a quarenta e seis
por cento do do ano transato (2012), e o orçamento de 2012, por sua vez, já só
equivalia a setenta por cento do de 2011;
·
Praticamente cinquenta por cento da despesa realizada
diz respeito aos custos inerentes ao aluguer de instalações à Empresa Parque
Escolar e respetiva manutenção (edifício e área exterior da Escola Gil Vicente);
·
A
restante verba prevista no orçamento é praticamente esgotada com as despesas de
funcionamento: eletricidade, água, comunicações, entre outras da mesma natureza;
·
Com
o aumento das dificuldades sentidas pela população portuguesa e,
especificamente, pelas famílias dos nossos alunos, as quebras das receitas
próprias do Agrupamento foram significativas, não tendo sido cobertas por
qualquer aumento de dotação do Estado. Os consumos internos, que são passíveis de
gerar alguma receita, também caíram cerca de vinte e um por cento.
6. Com todos os constrangimentos acima enunciados,
de todo o orçamento do Agrupamento, a verba que foi efetivamente utilizada
na organização e preparação das atividades letivas e na organização e
preparação das atividades de apoio e complemento curricular, representa apenas
três vírgula oito por cento do orçamento.
7. O Conselho Geral do Agrupamento de
Escolas Gil Vicente considera que, quando aprovou o documento “Linhas
Orientadoras para a elaboração do Orçamento de 2013”, se limitou apenas e
mais uma vez a cumprir uma obrigação legal, destituída de efeito prático e que
serve somente para, perante a opinião pública e a comunidade educativa,
mascarar a situação real de desinvestimento na Educação.
8. Face a tudo o que acima foi exposto, o
Conselho Geral do Agrupamento de Escolas Gil Vicente considerou ser imperioso
informar a comunidade escolar da gravidade da situação criada com o
decréscimo brutal e continuado das sucessivas dotações orçamentais, claramente
expressos nos sucessivos “Relatórios de Contas de Gerência” do Agrupamento dos
últimos anos.
O final do ano de 2013 e o ano de 2014
representarão, para as escolas públicas em geral, e para o nosso Agrupamento em
particular, a asfixia financeira quase total e a impossibilidade prática de
garantir o funcionamento regular da instituição e a qualidade mínima exigida ao
ensino público de um país democrático e desenvolvido.
Agrupamento
de Escolas Gil Vicente, 10 de julho de 2013
O Conselho Geral
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